Vila do Conde, no século XVI, ficava-se cautelosamente pelas Ruas da Senra e Bajoca, e os seus habitantes evitavam, cautelosamente, a praia. Só o século XIX fez voltar Vila do Conde para as suas praias, com a construção do famoso Bairro Balnear e das Avenidas Bento de Freitas e Júlio Graça. É neste panorama de expansão urbana rumo a poente que a velha capela de S. Tiago é “apanhada”. Os jardins da Iúlo Graça (uma vasta alameda que ia da Avenida Bento de Freitas ao rio), obriga a Câmara Municipal a encetar negociações com a Confraria, conversações essas que em 1935, levaram a Câmara a formular uma proposta de expropriação pelo valor de oito contos de reis. A 21 de Novembro de 1938 foi inaugurada a “nova” capela de Nossa Senhora do Desterro (a anterior já era assim chamada desde 1857, por se encontrar no retábulo da capela-mor as imagens da “fuga para o Egipto” — José, Jesus e Maria – a nossa Senhora do Desterro). Esta nova capela foi construída no sítio onde hoje se encontra a atual edificação, mas sendo pequena estava a necessitar de obras de ampliação, numa área da vila, que também ela se ampliava. Constituiu-se uma comissão liderada pela Arq.ª Maria José Corte Real (projetista), Eng.° Fernando Eça Guimarães (Construtor), Prof. Ezequiel Minhava e Maria Elvira Guedes, que angariaram fundos. E assim, com muito esforço e dedicação, nasceu a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, sagrada solenemente por S. Exa. Revma. o Senhor Arcebispo de Braga, D. Francisco Martins, a 24 de Agosto de 1972. Possui uma frontaria de vidro translúcido e alia linhas mais arrojadas com exemplares de escultura da primitiva capela. De destaque são as imagens de S. Tiago, “Fuga para o Egipto”/ Nossa Senhora do Desterro e o Senhor dos Aflitos.
O que conhecemos hoje por Igreja do Desterro teve diversas invocações e localizações. A velha capela de S. Tiago é mencionada no “Tombo Verde” do Mosteiro de Santa Clara de 1518. O senhor Júlio Vasques, estudioso e amigo desta igreja de Nossa Senhora do Desterro, da qual foi, inclusivamente juiz, escreveu um livro sobre a mesma — “A Estória que ninguém contou”. É desta obra que retiramos as principais referências para esta pequena publicação. Nela se comenta a problemática da primeira invocação da capela que ficava, para referência atual, a meio do parque de ténis, na Avenida Júlio Graça. Porquê a invocação de S. Tiago? O autor avança com várias hipóteses, mas uma nos parece a mais plausível: a capela fora construída por homens da terra, da lavoura, uma vez que S. Tiago não era muito venerado nos meios piscatórios, junto dos quais foi fundada. Provavelmente aquela ermida, cujo santo montava a cavalo com sabre na mão — “S. Tiago mata-mouros” — servisse de alguma forma para dar alento aos que junto ao rio sofriam com a pirataria moura, numa época em que as praias eram mais frequentadas por piratarias da zona magrebina do que pelos habitantes do Reino.